Algumas edições de Tex nascem para ser exatamente o que a série promete desde 1948: faroeste puro, direto, sem perfume narrativo — só pólvora, poeira e decisões morais que pesam mais que chumbo. Tex 561 – Caçado Vivo ou Morto, com argumento de Mauro Boselli e arte de Danubio, é uma dessas. Um arco fechado de 114 páginas que não pede licença: começa na corrida, termina na justiça. E no meio disso, entrega tudo o que o leitor de Tex quer, espera e exige.
A história se apoia naquele velho motor narrativo do Oeste: um jovem Jeff Cartland é acusado de um assassinato covarde de Frank, filho de um rico rancheiro — com um tiro pelas costas — e sua cabeça passa a valer três mil dólares, vivo ou morto. Para bom texiano, esse “ou morto” sempre diz mais sobre quem caça do que sobre quem foge. E aqui, de fato, a recompensa vira isca para todo tipo de caçador profissional, oportunista e justiceiro de aluguel.
Dois grupos de caçadores de recompensas estão no seu encalço um deles enviado pelo pai do rapaz que o quer morto. Tex e Carson saem na pista do jovem, mas terão que enfrentar inimigos ferozes, motivados pela generosa recompensa.
Boselli, que conhece a alma da série como poucos, injeta uma nuance interessante: durante a fuga, o jovem encontra abrigo em uma pequena comunidade cristã escondida na mata, pacífica, avessa ao uso de armas. É um intervalo de humanidade num arco marcado pela violência e pela perseguição. Claro que a paz dura pouco: a horda de caçadores, incluindo uma dupla de caçadoras tão eficientes quanto frias, invade o refúgio e captura o fugitivo.
É nesse ponto que Tex entra em cena — motivado não pela recompensa, mas pelo pedido de um velho chefe indígena, que sabe que o rapaz foi injustamente acusado. E se tem uma coisa que sempre move Tex Willer, desde G.L. Bonelli, é a palavra injustiça. A partir daí, o arco vira aquilo que Danubio sabe desenhar muito bem: cavalos em disparada, rostos tensos, rifles apontados, close-ups dignos de um western de Anthony Mann.
O cerco ao jovem Jeff conta até com a participação do xerife Dawson, inicialmente convencido de que o jovem é culpado. Mas a roda vira quando surge a testemunha-chave — alguém que mentiu por pressão e que finalmente revela a verdade. O suposto “assassino covarde” na verdade reagiu para não morrer: o filho do ricaço, o falecido, tentou matá-lo primeiro. Essa virada dá à edição seu ponto de força moral, e Boselli não deixa escapar: justiça não é só aplicar a lei, mas desmascarar quem tenta usá-la como arma.
O clímax ocorre no confronto final na casa do verdadeiro responsável por todo o caos: o poderoso Hayward, que financiou a caçada usando o luto como desculpa e o ódio como combustível. Com as provas expostas e o cerco fechado, o xerife — agora ciente de que foi manipulado — assume seu papel e prende o mandante. Nada de explosão hollywoodiana, nada de excessos: só justiça, como manda o código texiano.
No fim, mais uma página vira e nossos pards seguem adiante, vitoriosos sem celebração, porque no universo de Tex justiça não é mérito — é dever.
E a arte? Danubio dá show. Feições precisas, texturas de madeira, tecido e poeira que quase respiram, enquadramentos dinâmicos e um cuidado especial nos cenários. O nível de detalhamento eleva a edição e sustenta o ritmo veloz da trama. É trabalho sério, limpo e cheio de personalidade.
Tex 561 – Caçado Vivo ou Morto é exatamente o tipo de volume que funciona como porta de entrada para novos leitores e, ao mesmo tempo, como um prato cheio para fãs de longa data: arco fechado, ação continua, motivação forte, vilão com peso e um Tex que faz o que Tex faz de melhor — separar o certo do errado, custe o que custar.
Uma edição enxuta, intensa e redonda. Do tipo que você lê num fôlego só e agradece por Tex ainda ser Tex.


